Estamos a viver o auge da inteligência artificial. Esta ferramenta, utilizada para os mais variados fins, representa, de facto, uma revolução tecnológica.
Imagens criadas à tua medida, textos que demorarias uma hora a escrever e que a IA te entrega em segundos, ou até uma voz idêntica à tua num vídeo em que nunca participaste, tudo isto acontece a uma velocidade inegavelmente inumana.
Alguns afirmam que esta facilidade lhes salva o dia, outros, porém, preocupam-se com o rumo de uma inteligência tão inteligente ser, afinal, artificial. “Para onde caminhamos? Se isto já é possível agora, que tipo de evolução tecnológica nos espera no futuro?”, perguntam.
As questões são pertinentes, mas, por agora, sem resposta. Só nos resta esperar para ver o que o tempo trará.
Quando a tecnologia começa a pensar por nós
Para além do receio de a tecnologia estar a substituir humanos em diferentes áreas e do medo de que algum sistema dotado de inteligência artificial escape ao controlo humano, há um aspeto igualmente importante a considerar: o impacto da IA na autonomia do pensamento humano.
A IA é uma ferramenta que está a ser usada, muitas vezes indiscriminadamente, para as mais diversas tarefas. As pessoas recorrem a ela para que crie por elas, sem que seja necessário o esforço de pensar numa ideia, usar a criatividade para a desenvolver, errar, aprender e voltar a tentar.
Surge assim uma colaboradora que, a pedido, se torna a principal executora. Cria-se uma relação de dependência e um aprisionamento quase inconsciente na ideia de que, para produzir um bom trabalho, é preciso antes recorrer à inteligência artificial.
Em vez de ser apenas uma aliada, uma ferramenta de apoio, de colaboração ou de correção, a IA passa a ser a principal responsável por conceber e desenvolver a própria ideia.
A era dos conteúdos robotizados
O que diferencia um conteúdo de outro? A personalidade, os erros, a imaginação e a realidade de quem o cria. Cada obra carrega consigo a marca de quem a concebeu, visível em cada detalhe do projeto.
O criador nunca se dissocia totalmente do que produz. Mesmo quando se tenta ser neutro, a simples escolha de um tema em detrimento de outro já revela uma posição.
Mas e se o criador for uma máquina?
Se for uma máquina, veremos surgir cada vez mais conteúdos uniformes e artificiais. Produções que, por enquanto, ainda se percebe que não foram feitas por alguém de carne e osso.
Tal como acontece em qualquer outro movimento, há quem se oponha: pessoas que, ao primeiro sinal de uma obra gerada por IA, passam logo à frente. Muitos sentem falta daquilo que tem alma, personalidade e emoção, e isso, a inteligência artificial (ainda) não possui.
Como usar a IA de forma proveitosa
A melhor forma de usar a IA é a mesma com que usamos qualquer outra ferramenta útil: com moderação e propósito.
Usa-a para obter bons insights, para encontrares elementos que alimentem uma ideia inicial, que será tua e que tu próprio desenvolverás.
Usa a IA para melhorar os teus projetos, para acrescentar e não substituir. Usa-a porque gostas de tecnologia e queres explorar novas possibilidades, ou porque precisas de praticar um idioma, testar um conceito, ou até descobrir qual a melhor cor para pintar a tua parede e combinar com o resto da decoração.
A IA não é a vilã. A armadilha está na dependência, desta e de tantas outras ferramentas, que pode enfraquecer a nossa capacidade de criar e de pensar por conta própria.
No fim, destacam-se sempre os conteúdos que nos fazem sentir. E isso só se alcança quando nos permitimos pensar, imaginar e criar por nós mesmos.
